quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Duas grandes novelas de Quiroga traduzidas por Faraco


São duas grandes novelas de Horacio Quiroga no livro História de um louco amor seguido de Passado amor, publicado na Coleção L&PM Pocket, com tradução, cronologia e notas de Sergio Faraco.
O escritor uruguaio tomou o amor como tema principal nestas novelas, publicadas com um intervalo de 21 anos - História de um louco amor (1908) e Passado amor (1929) - e que revelam uma faceta diferente do grande contista. Influenciado pela leitura de Dostoiévski, Quiroga mostra personagens atormentados pelo amor, corroídos pelo ciúme, ao mesmo tempo em que explora os claro-escuros da mentalidade burguesa. Nas duas novelas, os protagonistas vivem a dicotomia entre a cidade e o campo, muito presente na literatura de grandes nomes da escrita uruguaia e argentina do período.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O caso ebúrneo

Coluna de Sergio Faraco, publicada hoje no Segundo Caderno, de Zero Hora

Numa cidade em que se contavam nos dedos as pessoas que liam, dr. Archangelo cultivava uma biblioteca com mais de um milhar de obras. Era bacharel em Direito, mas, tendo herdado um despotismo de campo, jamais exercera a advocacia, e enquanto acompanhava, à distância, a proliferação da boiada, dedicava-se à leitura dos clássicos. Negócios e questões domésticas eram da alçada de procuradores, gerentes e criados. Infenso às visitas, ao lazer clubístico, à política e, em suma, à vida comunitária, raramente era visto, mas a cidade, por considerá-lo um sábio, desculpava-lhe as extravagâncias e até o nomeara presidente de honra de várias sociedades, inclusive do clube, embora nunca tivesse freqüentado qualquer delas e muito menos o clube.
Nos anos 50 veio a falecer, após uma semana de agonia hospitalar. Fez-se o velório no palacete e dir-se-ia que a cidade inteira se comprimia no saguão e nas aléias de saibro do jardim. Como era viúvo, não tinha filhos, parentes próximos e nem mesmo um cacho, ninguém chorava e todos cavaqueavam bem-dispostos, tomando café preto com empadas e outros quitutes, servidos por criados sorridentes. A alegria famulatória se justificava: num preito à fidelidade, o doutor lhes legara importante cabedal.
A fidelidade não sobreviveu às exéquias: no dia seguinte, os criados propalaram ter achado no gabinete do sábio, em compartimento secreto da estante, um pênis de marfim, de dimensões humanas e uso incerto.
No clube, em práticas restritas, discutiam-se as finalidades da peça, no quiosque da praça caçoava à larga o populacho, ao passo que na igreja, em sermão sobre a moral, o padre referiu-se gravemente ao “caso ebúrneo”. Na mesma semana eclodiu um movimento entre as damas da Congregação Mariana, postulando que o morto fosse excomungado, e a questão que se debatia era a da eficácia do anátema, ou seja, se a alma seria alcançada pelo decreto, que ainda esbarraria na burocracia cardinalícia.
Os ex-criados venderam o palacete e o mobiliário francês. Ninguém quis comprar a estante e suas mil obras. O novo morador, pouco afeiçoado à cultura dos séculos, ofertou-as a uma biblioteca local, que as recebeu sob condição – promessa de sigilo –, e a estante maldita tomou o rumo de uma entidade assistencial, para ser transformada em lenha. Na tarde em que esteve na calçada, à espera da carroça, muitas pessoas passaram por ali, alardeando sua indignação ou seu deboche.
Ninguém perdoou o dr. Archangelo. A riqueza e a misantropia, atiçadas pelo caso ebúrneo, cobraram dele um preço mui salgado, o ódio póstumo – conta que, segundo se dizia abertamente na cidade, ele estava pagando com juros: na última viagem, esquecera-se de pôr na mala o seu mais íntimo consolo.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Sarau Elétrico faz leitura de grandes contistas

Este é o tema de hoje no "Sarau Elétrico", com leitura de textos de contistas como Sergio Faraco, Jorge Luis Borges, Julio Cortazar, Rubem Fonseca, Dalton Trevisan e Nelson Rodrigues. O convidado especial desta edição é Fabrício Carpinejar.

Em outubro do ano passado, Faraco participou do evento, que acontece todas as semanas, no bar Ocidente – foto na ocasião, com Luís Augusto Fischer, Katia Suman e Cláudio Moreno.
A notícia Sergio Faraco é o convidado do Sarau Elétrico desta terça-feira foi publicada no site da L&PM Editores em 14/10/2008.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Faraco com Assis Brasil e Mário Quintana na UniTV

A entrevista de Sergio Faraco para o “Letras Nossas”, programa comandado pelo também escritor Luis Antonio de Assis Brasil, irá ao ar na próxima quarta-feira, dia 21 de janeiro, pela UniTV, canal 15 da Net. A conversa entre amigos que o são de longa data teve vários momentos de recordações de Mário Quintana, de quem Faraco foi igualmente amigo pessoal (foto ao lado) - no ano passado, a L&PM lançou o livro O pão e a esfinge seguido de Quintana e eu, que traz parte da sua correspondência com o poeta. “Letras Nossas” vai ao ar nas quartas-feiras, às 22hs05min, com reprises nas quintas-feiras, sábados e domingos, 21hs.

Em outubro do ano passado, Faraco também teve entrevista exibida pela UniTV, com gravação da TV Feevale, o canal universitário de Novo Hamburgo, para o programa "Autografando". A repórter Andréia Souza conversou com o escritor no Bistrô do Pátio, o delicioso restaurante da sua filha Angélica Faraco, no bairro Tristeza, em Porto Alegre. Você pode assistir ao programa acessando no YouTube em três partes.


quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Pelado e de mão no bolso

Coluna de Sergio Faraco, publicada hoje no Segundo Caderno, de Zero Hora.

Acossados pelos assaltantes, a cada dia os bancos implantam novas regras de segurança, e nem assim escapam dos prejuízos causados pelos roubos. Quem deveria ser responsabilizado por esse descalabro é o Estado, mas quem paga o pato é o cidadão. Tempo haverá em que, para entrar num banco, ele terá de se despir.
Outro dia fui a um deles, na Tristeza, fazer pagamentos. Cumpri as formalidades impostas ao público, entregando as chaves e o celular ao guarda, e ele me surpreendeu com o aviso de que nem a bolsa podia levar, tinha de deixá-la no armário do saguão.
Atrapalhado com meus papéis, guardei a bolsa, dela retirando a carteira. E segui para a fila do caixa. Quando chegou minha vez... bah, cadê a carteira? Retornei ao saguão, abri o armário e nem sinal. Refiz o trajeto até o caixa, e nada. Quem sabe a extraviara no Correio, onde antes estivera? Tinha certeza de que ali mesmo a pescara da bolsa, mas, admitindo, ou antes desejando que a certeza mascarasse um delírio, fui ao Correio.
E nada.
Voltei ao banco.
Preocupado, decerto, lá se iam cartões de crédito, cédulas de identidade e habilitação, talão de cheques, sem falar em meus laboriosos pilas. Ocorreu-me, então – já sem esperança –, fazer o que devia ter feito antes, isto é, perguntar ao guarda se alguém achara uma carteira.
– Qual a cor?
– Marrom.
Não é que ele levantou um pano em seu balcão e a carteira estava ali? Fora encontrada sobre o armário por uma senhora que saía.
Que coisa, não?
Cruzara pelo saguão, minutos antes, um raro espécime da etnia tupiniquim. Deparar com uma dessas honradas criaturas é um felicíssimo acaso, como um bambúrrio, mas que existem, existem, e estão por aí, anônimas, discretas – talvez sejam elas as escoras que ainda mantêm em pé sociedades cuja propensão é rastejar como os lagartos.
Desde tal dia, quando preciso pagar contas, já saio de casa mais ou menos pelado, levando no bolso tão-só o que é indispensável. Tenho a satisfação de informar que, naquele banco, ainda não me pediram para tirar as calças.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Conversa entre amigos

Na próxima quarta-feira, dia 07 de janeiro, Sergio Faraco será entrevistado pelo também escritor Luis Antonio de Assis Brasil, que comanda o “Letras Nossas”, na UniTV, canal 15 da Net. A conversa promete bons momentos, pois além de partilharem o universo literário, Faraco e Assis Brasil são amigos de longa data. No programa serão mostrados os lançamentos mais recentes de Faraco, pela L&PM, na última Feira do Livro de Porto Alegre: Noite de matar um homem; Doce paraíso e O Pão e a esfinge seguido de Quintana e eu. “Letras Nossas” vai ao ar nas quartas-feiras, às 22hs05min.