sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Moacyr Scliar relata experiência de Faraco num hospital psiquiátrico soviético


A revista Mente & Cérebro que está nas bancas apresenta uma matéria sobre “Os porões da psiquiatria soviética: Medicamentos e diagnósticos foram usados como armas na antiga URSS para conter os descontentes com o regime e os que se mostravam ‘perigosamente’ criativos”. A coluna do escritor Moacyr Scliar nesta edição trata do mesmo assunto. Com o título “Psiquiatria & política”, Scliar conta que “o escritor gaúcho Sergio Faraco viveu na década de 60 na URSS, onde foi internado em um hospício por discordar de dirigentes do regime”. Leia um trecho da coluna de Scliar a seguir:
"(...)pouca gente sabe que um brasileiro também passou por um hospital psiquiátrico soviético. Trata-se do grande escritor Sérgio Faraco (Alegrete, 1940) que, jovem simpatizante do comunismo, viveu de 1963 a 1965 na União Soviética, como aluno do Instituto Internacional de Ciências Sociais. Nessa época teve problemas com os dirigentes comunistas, que não toleravam seu espírito independente. Finalmente Faraco foi internado num hospital psiquiátrico, sombria experiência que ele narrou no premiado Lágrimas na Chuva (2002). (...) Porém, uma enfermeira chamada Lara o ajuda. Quando Faraco lhe contou que, antes da internação, estava escrevendo um livro, ela levou até ele os cadernos nos quais trabalhava. (...) Mas nem essa esperança se sustentou(...) Não ser tratado como bicho: era tudo a que podia aspirar um 'paciente' do sistema psiquiátrico soviético. Que, convenhamos, não deixou saudades".

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Cérebros

Coluna de Sergio Faraco publicada hoje no Segundo Caderno, de Zero Hora
A cada manhã, ao ligar o computador, encontro dezenas de mensagens enviadas ao endereço inserto no cabeçalho da coluna. São comunicados urgentes da Receita Federal, que apontam irregularidades em minha última declaração de renda; do Bradesco ou da Caixa, que solicitam meu recadastramento sob pena de me fecharem a conta; das Casas Bahia, avisando que a encomenda foi expedida, ou de certa Patrícia, anexando fotos nas quais, garante, ela se refresca nua em pelo.
E por aí vai.
O remetente, além de mal-intencionado, é um bocó, ou por outra, duplamente bocó, por pensar que os outros o são tanto quanto ele.Tamanha é minha curiosidade acerca desse atraso mental que decidi conhecer o tipo de cérebro que dele padece. Para tanto, consultei dois renomados sábios da Mongólia. Bah, que frustração, em nada me socorreram seus laudos conflitantes. De resto, parece-me que incorreram numa espécie de aberratio ictus. Ou seja, erraram o alvo.
Diz um dos sábios:
Indivíduos com tais características são tão raros na Mongólia quanto comuns em certas planícies áridas da África e da Arábia. Tem geração peculiar. Fecundado no ventre materno, o óvulo cria uma carapaça que se enrijece com o progresso da gestação. Quando nasce, não nasce, isto é, o que irrompe é um senhor ovo, uma bocha branca. Após a chocagem, finalmente vem ao mundo o sobredito. A forma é humana. Cérebro, o do estrutionídeo, que os rústicos conhecem por avestruz.
Diz o outro:
Indivíduos da espécie indicada têm cérebro de dimensão compatível com o crânio humano, mas sua constituição difere ligeiramente da normalidade. No crisol, apresenta 15 por cento de pó-de-mico, 15 por cento de ri-do-rato e 20 por cento de maizena. O outro hemisfério se compõe de matéria excremental em ebulição ou efervescência, donde surgem, como bolhas, os pensamentos, as ideias e, enveredando pelos canais competentes, o popular cocô. Na Mongólia são considerados animais sagrados e andam no meio do povo como as vacas da Índia.
De ambos descreio.
Estou inclinado a pensar que essas descrições não remetem ao bocó e sim àquelas pessoas que o fiscalizam ou deveriam fiscalizá-lo, pois é certo que, como eu, elas recebem as mal-ajambradas e delituosas cartinhas da Receita Federal, do Bradesco, da Caixa, das Casas Bahia ou da despilchada Patricinha.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Acordo neológico

Coluna de Sergio Faraco publicada hoje no Segundo Caderno, de Zero Hora

Em voga o Acordo Ortográfico, que pretende fazer com o português escrito alguma coisa que ainda não entendi, julgo oportuno oferecer aos países que praticam a inculta e bela os meus préstimos neológicos, para que também no léxico se proceda a um pacto formal. A saber:
Alfaberto
s.m. Conjunto de letras de um sistema de escrita, ordenadas democraticamente, i.é., conforme o entendimento do usuário. O meu começa pelo jota e termina no dos russos.
Alfarroubo
s.m. Livro antigo ou velho que foi alfarroubado. Também remete ao ato da subtração, dolosa ou culposa.
Bafor
s.m. Vocábulo já de uso corrente, a referir a canícula abafadiça.
Barbucha
s.f. Uso retrito: a barba do jornalista Danilo Ucha.
Culodice
s.f. (censurado)
Curinol
s.m. Aparelho sanitário dois-em-um.
Decepição
s.f. Frustração feminina com o desempenho sexual do parceiro.
Deletório
s.m. Diretório interministerial para apagar provas de irregularidade e acabar com as denúncias midiáticas de corrupção.
Equívoco
s.m. Nas provas de hipismo, o engano do cavalo.
Felábio
s.m. Para distinguir lábios uns dos outros.
Longinácia
s.f. Longa perseverança, geralmente irresistível. Também se aplica às Inácias longilíneas.
Mijório
s.m. Mictório público plebeu.
Nasocômio
s.m. Hospital especializado em cirurgia nasal.
Peculatra
s.f. Peculato malsucedido.
Peninsular
v. Recolher o membro masculino ao modo stand by.
Vacabulário
s.m. Dicionário de termos regionais sulinos.