segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"Decálogo" no Café TVCOM


O Café TVCOM de sábado, dia 29, com Tulio Milman, Tatata Pimentel, J. A. Pinheiro Machado, David Coimbra, Thedy Correa e Tânia Carvalho, apresentou um longo debate sobre o Decálogo do perfeito contista.
Clique aqui para ouvir o programa no post de hoje, no blog de Tânia Carvalho.

domingo, 30 de agosto de 2009

"Decálogo" no Cultura do jornal O Estado de S.Paulo de hoje

Um desfile de credos literários
Coletânea traz reflexões sobre texto de Horacio Quiroga a respeito do conto, gênero que o consagrou
Wilson Alves-Bezerra
O contista uruguaio Horacio Quiroga (1878-1937) já era, em meados dos anos 20, um escritor maduro e popular - mas estava longe de ser uma unanimidade entre seus pares, principalmente no caso dos jovens. Havia publicado a quase totalidade de seus contos em revistas e jornais de grande circulação da Argentina, onde vivia, e, na época, imberbes vanguardistas locais, como Jorge Luis Borges e Oliverio Girondo, declaravam, nas páginas da revista Martín Fierro, que tinham asco das edições baratas e da popularização da literatura. Anos depois, outro argentino, Adolfo Bioy Casares, dedicaria seu tempo livre a escrever versinhos de escárnio a Quiroga em seus diários íntimos, aos quais hoje o leitor pode ter acesso no livro Descanso de Caminantes. Na década de 90, o cubano Guillermo Cabrera Infante declararia que na infância lera os contos de Quiroga e acreditara neles, mas que não voltaria a lê-los "nem amarrado". Essas são algumas reações salutares à ficção de Horacio Quiroga que dão a medida dos afetos despertados pelo controverso uruguaio.
Pois nos anos de 1927 e 1928, quando via as portas de grandes veículos, como La Nación, se fechando para ele, com a ascensão dos novos talentos, Quiroga começa a publicar uma série de artigos fazendo um balanço de sua carreira, discutindo direitos autorais e - mais importante - refletindo sobre a escrita literária. Estes últimos textos - que tomam como ponto de partida Filosofia da Composição e Hawthorne, do norte-americano Edgar Allan Poe - são impagáveis conselhos, dicas, truques, mandamentos e receitas para o "passatempo das muitas pessoas cujas ocupações sérias não as permitem se aperfeiçoar em uma ocupação mal paga e nem sempre bem vista". Por essa frase já se nota a marca mais forte de tais artigos: o humor.
É justamente a essa série que pertence o texto Decálogo do Perfeito Contista, que dá título à publicação agora lançada pela L&PM. Mas o livro da editora gaúcha, apesar do que indica a capa, não é uma obra de Horacio Quiroga e sim um trabalho feito a partir dela. Partindo da instigante pergunta sobre o que motiva uma escrita literária, e como ela se dá, os organizadores do volume, Sergio Faraco e Vera Moreira, convocaram alguns autores brasileiros para "debaterem" cada um dos mandamentos do célebre Decálogo de Quiroga.
Entretanto, é na sensível passagem da escrita para a leitura que este livro mostra a natureza de sua fatura. O exercício autoirônico do uruguaio naquela série de textos que, nas palavras de Julio Cortázar, traz uma "piscadela ao leitor", é lido de modo literal por Faraco e Moreira, que afirmam com todas as letras que "Quiroga escreveu o Decálogo a sério". E ao fazerem tal afirmação terminam por deitar fora o principal: que o Decálogo del Perfecto Cuentista é uma obra literária construída a partir da ironia, e não um tratado ou um texto teórico sobre o conto.
O caminho escolhido pelos organizadores é justamente o de não considerar o aspecto de criação literária do Decálogo de Quiroga - que se inscreve na longa tradição do relato metaliterário, na qual se incluem textos como Filosofia da Composição de Poe, Pierre Menard, Autor do Quixote, de Borges, e Nome Falso, de Ricardo Piglia.
Com o pressuposto da literalidade, o objetivo do livro de Faraco e Moreira será "convocar renomados escritores brasileiros para uma discussão sobre a vigência ou não desse legado de Quiroga". Ou seja, o Decálogo é reduzido a um conjunto de ideias questionáveis sobre a escrita - e sua sutileza e concisão cedem lugar para a exegese. Com uma discussão nesses termos, o livro perde muito do seu prometido vigor, abrindo espaço para que alguns dos comentadores caiam no protocolar "concordo", "não concordo". O lado positivo é que cada um dos autores vai enunciando, à sua maneira, seu credo literário, declinando seus próprios deuses, declamando seu próprio credo literário. Alguns vão além e, ao responderem, fazem literatura.
A edição traz ainda, na seção O Ofício da Escrita, uma vasta bibliografia comentada. A seleção, cuja marca é o ecletismo, passa por Sade, Gorki, Calvino, Bloom, Moretti, etc., mas - paradoxo dos paradoxos - não cita o fundamental Los Trucs del Perfecto Cuentista y Otros Escritos, coletânea dos textos do próprio Horacio Quiroga sobre literatura, que seria o mote da publicação. Pode-se supor que os organizadores não quiseram citar uma edição em espanhol, dado que as demais referências figuram em português. Teria sido então mais generoso com o leitor incluir outros textos traduzidos de Quiroga sobre o conto, além do Decálogo.
Wilson Alves-Bezerra, tradutor e professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos, é autor de Reverberações da Fronteira em Horacio Quiroga (Humanitas/Fapesp)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Gaúcha Entrevista com "Decálogo do perfeito contista"

Ruy Ostermann entrevista Sergio Faraco e Vera Moreira, organizadores do livro Decálogo do Perfeito Contista.
Clique aqui para ouvir o programa.

As leis de Quiroga

Matéria publicada hoje no Segundo Caderno, de Zero Hora
Livro debate as regras para um bom conto
CARLOS ANDRÉ MOREIRA
Quando um mestre fala de seu ofício, é comum dizer que ele pontifica. O mestre uruguaio Horácio Quiroga (1878 – 1937) fez mais: escreveu seus próprios 10 mandamentos. Traduzido pelo também mestre do conto Sergio Faraco, o Decálogo do Perfeito Contista, de Quiroga, ganha agora edição nacional comentada por 20 artistas e críticos – transformando o volume em um grande debate sobre o fazer literário.As regras foram publicadas por Quiroga – um dos grandes nomes da prosa latino-americana, – na revista argentina Babel, em 1928 (confira abaixo). Resumiam a poética de um exímio contista, cujo trabalho, em vida, foi muitas vezes comparado ao de Poe, pela maestria na forma e pelo tom fantástico. Escritores, pela própria natureza do ofício, se dedicam a ordenar mundos por escrito. Logo, não são raros os que já publicaram listas do tipo, como as Vinte Regras Para Escrever um Bom Romance Policial, de S.S. Van Dine, publicadas em 1928, contemporâneas do decálogo de Quiroga, ou o mais recente 10 Regras do Bom Texto, de Elmore Leonard (2001).Não é, portanto, a simples publicação do decálogo de Quiroga o principal mérito do volume organizado por Faraco e Vera Moreira. Ambos pediram a 20 escritores, críticos e intelectuais que comentassem uma por uma as 10 regras, concordando, criticando, acrescentando seus próprios pontos de vista – alguns dos comentaristas são eles próprios grandes contistas, como Moacyr Scliar, Nelson de Oliveira, Charles Kiefer ou Cintia Moscovich. Outros são reconhecidos por sua atuação como críticos e pensadores da literatura, como José Castello, Fábio Lucas, Luís Augusto Fischer ou Marcelo Backes – estes dois últimos também ficcionistas. Também estão presentes Luiz Antonio de Assis Brasil, formador de gerações de autores em sua oficina, e Paulo Hecker, um dos grandes intelectuais do Estado, morto em 2007. Completam o time de comentaristas Aldyr Garcia Schlee, Hélio Pólvora, Jacob Klintowitz, Jaime Prado Gouvêa, Miguel Sanches Neto, Roberto Gomes, Silveira de Souza e Sonia Coutinho. Se há algo a lamentar, é o fato de Faraco, um dos maiores contistas do Brasil, ter se limitado ao papel de organizador sem dialogar ele próprio com as regras do escritor uruguaio.
Os 10 Mandamentos de Quiroga
1. Crê num mestre – Poe, Maupassant, Kipling, Tchekhov – como na própria divindade.
2. Crê que tua arte é um cume inacessível. Não sonha dominá-la. Quando puderes fazê-lo, conseguirás sem que tu mesmo o saibas.
3. Resiste quanto possível à imitação, mas imita se o impulso for muito forte. Mais do que qualquer coisa, o desenvolvimento da personalidade é uma longa paciência.
4. Nutre uma fé cega não na tua capacidade para o triunfo, mas no ardor com que o desejas. Ama tua arte como amas tua amada, dando-lhe todo o coração.
5. Não começa a escrever sem saber, desde a primeira palavra, aonde vais. Num conto bem feito, as três primeiras linhas têm quase a mesma importância das três últimas.
6. Se queres expressar com exatidão esta circunstância – “Desde o rio soprava um vento frio” –, não há na língua dos homens mais palavras do que estas para expressá-la. Uma vez senhor das tuas palavras, não te preocupa em avaliar se são consoantes ou dissonantes.
7. Não adjetiva sem necessidade, pois serão inúteis as rendas coloridas que venhas a pendurar num substantivo débil. Se dizer o que é preciso, o substantivo, sozinho, terá uma cor incomparável. Mas é preciso achá-lo.
8. Toma teus personagens pela mão e leva-os firmemente até o final, sem atentar senão para o caminho que traçaste. Não te distrai vendo o que eles não podem ver ou o que não lhes importa. Não abusa do leitor. Um conto é uma novela depurada de excessos. Considera isto uma verdade absoluta, ainda que não o seja.
9. Não escreve sob o império da emoção. Deixa-a morrer, depois a revive. Se és capaz de revivê-la tal como a viveste, chegaste, na arte, à metade do caminho.
10. Ao escrever, não pensa em teus amigos nem na impressão que tua história causará. Conta como se teu relato não tivesse interesse senão para o pequeno mundo de teus personagens e como se tu fosses um deles, pois somente assim obtém-se a vida num conto.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O quibebe e outro caso

Coluna de Sergio Faraco publicada hoje no Segundo Caderno, de Zero Hora
Uma coluna de Paulo Sant’Ana despertou especialmente minha atenção. Foi publicada no final de abril e tratava de seus pratos memoráveis, preparados, em regra, pela madrasta. Suas preferências convalidam um postulado gastronômico de Nelson Rodrigues, segundo o qual as pessoas só gostam daquilo que comeram em pequenas.
Em muitos pratos, como o pimentão recheado, Sant’Ana tem minha fervorosa adesão, assim como nos diversos doces que menciona e, olha só, no gosto e no costume de furar a lata de leite condensado para sorvê-lo até a última meleca. Com uma diferença: cometo essa barbaridade até hoje. Haja estômago, mas mal não há de fazer. Ou por outra: o que tinha de fazer, já fez.
Um dos cultos do paladar santaniano, em criança, era o quibebe, e ele declara que ainda o é. Cá estamos, o colunista e eu, numa encruzilhada, e eis que nosso caminho se bifurca. Eu como de tudo e, sendo preciso, até a polenta do cachorro, mas quibebe nem sob tortura.
Gostaria, portanto, de alterar ou complementar a sentença de Nelson Rodrigues: as pessoas só gostam daquilo que comeram em pequenas... desde que não tenham sido forçadas a tanto.
Em nossa casa, no Alegrete, gurias e guris éramos obrigados a fazer certas coisas, e uma delas era comer quibebe.
Outra, tomar sopa de trigo.
Outra ainda, sestear.
E o resultado é que, na idade madura e na mais madura ainda, detesto quibebe e sopa de trigo, e se sesteio estrago a tarde.
Não vem ao caso, mas até hoje me pergunto por que devíamos sestear após o almoço, deitados no piso da sala, e até hoje desconfio de que era o momento em que meu velho e minha velha gostavam de fornicar. Que coisa. Tinham hora marcada! Talvez seja por isso que sou tão pontual. Garanto, no entanto, que ao menos para esse fim nunca olhei para o relógio.
Isso quando era mais ativo, claro.
Ultimamente, limito-me aos anos bissextos.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

"Decálogo" na Gramado Magazine

Clique aqui para ler a página de Tela Tomazeli, hoje na internet, com a dica do lançamento do Decálogo do perfeito contista.

"Decálogo" no Porto Cultura

Clique aqui para ler a notícia no Canal Literatura do site.

domingo, 16 de agosto de 2009

"Decálogo" no site de Felipe Vieira

Clique aqui para ler a página de hoje de Jornalismo on-line com o lançamento do Decálogo do perfeito contista.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

"Decálogo do perfeito contista", novo lançamento da L&PM com organização de Sergio Faraco e Vera Moreira

LANÇAMENTO – ENSAIOS
Decálogo do perfeito contista
de Horacio Quiroga
Organização de Sergio Faraco e Vera Moreira

Em 1927, quando pela primeira vez foi publicado o “Decálogo do perfeito contista”, na revista Babel, de Buenos Aires, o uruguaio Horacio Quiroga (1878-1937) já havia talhado, a golpes certeiros e minuciosos, alguns de seus lapidares contos: “O travesseiro de plumas”, de 1907, e “A galinha degolada”, de 1925, entre eles. Era, portanto, quase entrado nos cinquenta anos e respeitado pelos seus pares rio-platenses e outros contemporâneos, como Borges, Juan José Morosoli, Leopoldo Lugones e Juan Carlos Onetti. Como não poderia deixar de ser, o Decálogo é, por um lado, a profissão de fé de um exímio contista, a partilha – generosa, diga-se – de um conhecimento forjado a duras penas, com o objetivo, talvez, de maneirar os excessos literários da juventude, mas, por outro lado, é também um documento literário de uma época e de um modo de se pensar a literatura. No quinto mandamento, lê-se: “Não começa a escrever sem saber, desde a primeira palavra, aonde vais”; no sétimo mandamento, “Não adjetiva sem necessidade, pois serão inúteis as rendas coloridas que venhas a pendurar num substantivo débil”.
Visando abarcar ambos aspectos dos mandamentos do perfeito contista idealizados por Quiroga – o aspecto aplicável à literatura do próprio autor, bem como o aspecto historiográfico –, Sergio Faraco e Vera Moreira reuniram alguns escritores e intelectuais brasileiros para debater cada um dos preceitos. O resultado, mais do que um livro de crítica, é uma obra que apresenta o grande gênio narrativo de Horacio Quiroga em uma versão debatida e enriquecida para o século XXI.
COMENTÁRIOS DE: Aldyr Garcia Schlee, Charles Kiefer, Cíntia Moscovich, Deonísio da Silva, Fábio Lucas, Flávio Moreira da Costa, Hélio Pólvora, Jacob Klintowitz, Jaime Prado Gouvêa, José Castello, Luís Augusto Fischer, Luiz Antonio de Assis Brasil, Marcelo Backes, Miguel Sanches Neto, Moacyr Scliar, Nelson de Oliveira, Paulo Hecker Filho, Roberto Gomes, Silveira de Souza e Sonia Coutinho.
HORACIO QUIROGA nasceu em 1878, na cidade de Salto, no Uruguai. Teve uma vida permeada pela tragédia. Depois de enfrentar o suicídio do pai e do padrasto, o tiro acidental que deu no melhor amigo e a morte da primeira mulher, se suicidou em 1937. Publicou poemas, contos e livros infantis. Na Coleção L&PM POCKET estão disponíveis A galinha degolada, Uma estação de amor e História de um louco amor seguido de Passado amor.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O cigarro

Coluna de Sergio Faraco publicada hoje no Segundo Caderno, de Zero Hora

Comecei a fumar aos 13 ou 14 anos. Se os guris da rua fumavam e, com as volutas desse charme, eram bem-sucedidos com as gurias, por que eu não poderia também? Marusca era a marca do jurássico pito. A primeira tragada quase me derrubou e acrescente a náusea que me perseguiu no resto do dia. O segundo cigarro, se atordoou, algum prazer rendeu, tanto que fumei um terceiro, um quarto, um quinto, e continuei fumando nos seguintes 54 anos.
Haja pulmão.
Era hora de parar.
Tarde, não?
Mas parei.
E acredite, você que jamais sucumbiu ao vício, parece-me que, não fumando após as refeições, a comida perdeu o gosto – tenho comido em nome da sobrevivência, como quem toma um remédio indispensável. Exagero? Ora, se peco é pela moderação: parece-me que o próprio dia a dia tornou-se insípido.
Antes eu ia ao correio, e na volta, como as vacas rumo ao saleiro, sempre fazia o mesmo caminho: de uma oficina na Tristeza a uma loja de automóveis em Ipanema, para cavaquear sobre carros e, claro, sobre a salvação da pátria e as razões profundas de nossa estadia na parte de cima da terra, e tais prosas mecânicas, políticas e filosóficas se desenvolviam nutridas por cafezinhos e em acolhedora e propícia atmosfera enfumaçada. Em casa, sentava-me à mesa para escrever e, nos momentos de dúvida, recorria a uma tragada esclarecedora.
Agora, este vazio.
O sem-gracismo cotidiano ainda me mata, mas, olha só, com o passar dos dias, das semanas e já dos meses, minha disputa com o cigarro transformou-se em birra, um em cada ponta do cabo-de-guerra. Vai me enervar? Ah, é assim? Essa angústia?
Então toma lá: dou corda e puxo.
Vou ao correio, visito a oficina, a loja, e em todos os lugares que frequento, inclusive meu escritório, tomo saborosos cafezinhos com um único intuito: provocar. Provoco e não fumo. E sigo provocando.
Que força de vontade!
Será que dura?