(Florianópolis: Garapuvu, 2007. 88 páginas).
Com a participação dos escritores. Amilcar Neves, Cristovam Buarque, Emanuel Medeiros Vieira, Francisco José Pereira, Mario Prata, Olsen Jr., Sérgio da Costa Ramos, Sergio Faraco, Silveira de Souza e Urda Alice Klueger. O livro reúne, em forma de ficção literária, textos sobre os horrores cometidos nos longos anos de ditadura militar instalada em 1º de abril de 1964 e só interrompida em 1985.
Matéria publicada hoje no Diário Catarinense sobre o livro:
Nem sempre foi assim
Coletânea organizada por Francisco Pereira traz para a ficção as experiências de 10 escritores no pós-1964
Nos tempos daquele slogan: “Brasil: ame-o ou deixe-o”, muitos foram os brasileiros, intelectuais, sobretudo, que preferiam deixá-lo, porque não era mais um Brasil amável. Foram tempos de uma ciranda diversa. Décadas de 1960 e inícios de 1970. O arbítrio do AI-5. (...)
Um dos refugiados no exterior, por muitos anos, foi Francisco José Pereira, que organizou estes Contos dos Anos de Chumbo, sob o apropriado título Nem Sempre Foi Assim. (...) Testemunhas do seu tempo, de opressões e horrores, resgatam para leitores mais jovens algumas das arbitrariedades da ditadura militar, traços para “estudo e aprofundamento dos fatos que marcaram aquele instante crucial da História brasileira”, nas palavras do prefaciador Roberto Freire. (...)
Boleros de Júlia Bio, por Sérgio Faraco, constitui relato pleno de nostalgia, melancólico e lento como o bolero. O narrador, distante mas não esquecido de Helena, relembra o tempo do hotel em Caxias, o projeto de um chalezinho em Belém Novo, com petúnias... porém, de repente, desaba o presente que tudo sufoca: a polícia irrompe na clandestinidade, fazendo com que se realizem as palavras da canção de Júlia Bioy. Tanto o ótimo diálogo quanto o fluxo interior prendem o leitor até o final. (...)
Nem sempre foi assim
Coletânea organizada por Francisco Pereira traz para a ficção as experiências de 10 escritores no pós-1964
Nos tempos daquele slogan: “Brasil: ame-o ou deixe-o”, muitos foram os brasileiros, intelectuais, sobretudo, que preferiam deixá-lo, porque não era mais um Brasil amável. Foram tempos de uma ciranda diversa. Décadas de 1960 e inícios de 1970. O arbítrio do AI-5. (...)
Um dos refugiados no exterior, por muitos anos, foi Francisco José Pereira, que organizou estes Contos dos Anos de Chumbo, sob o apropriado título Nem Sempre Foi Assim. (...) Testemunhas do seu tempo, de opressões e horrores, resgatam para leitores mais jovens algumas das arbitrariedades da ditadura militar, traços para “estudo e aprofundamento dos fatos que marcaram aquele instante crucial da História brasileira”, nas palavras do prefaciador Roberto Freire. (...)
Boleros de Júlia Bio, por Sérgio Faraco, constitui relato pleno de nostalgia, melancólico e lento como o bolero. O narrador, distante mas não esquecido de Helena, relembra o tempo do hotel em Caxias, o projeto de um chalezinho em Belém Novo, com petúnias... porém, de repente, desaba o presente que tudo sufoca: a polícia irrompe na clandestinidade, fazendo com que se realizem as palavras da canção de Júlia Bioy. Tanto o ótimo diálogo quanto o fluxo interior prendem o leitor até o final. (...)
Mesmo durante os “anos de chumbo”, artistas, músicos, escritores brasileiros não diminuíram sua voz, bastando lembrar o Cinema Novo, o Teatro de Arena, os Centros Populares de Cultura, um Chico Buarque, um Erico Verissimo. Todo desafio é instigante. Em Santa Catarina, lembrem-se de Holdemar Menezes (A Maçã Triangular), Salim Miguel (Primeiro de Abril: Narrativas da Cadeia ou A Voz Submersa), Roberto Gomes (Alegres Memórias de um Cadáver) Edla van Steen (Memórias do Medo), Emanuel Medeiros Vieira (A Revolução dos Ricos), escrevendo ainda no calor da hora. Mesmo 40 anos após a “gloriosa”, as marcas não cicatrizaram, e este volume Nem Sempre Foi Assim pode bem lembrar às gerações mais jovens que “nem sempre foi assim” como os tempos de hoje e “nem sempre foi assim” como nos Anos de Chumbo das décadas de 1960-1970.
POR LAURO JUNKES Presidente da Academia Catarinense de Letras.